segunda-feira, junho 27, 2011

Arroz doce sem ovos

Já lá vão uns anitos, andavamos pelas Terras Dentro nas Alcáçovas e numa bendita tarde, foi-nos proporcionado um lanche dos "deuses"! A Talã mandou preparar um arroz doce delicioso e depois teve a gentileza de nos dar a receita, agora a pedido de alguns colegas passo ao "papel" tal ícone do património gastronómico alentejano, tal como me foi transmitido!.

ARROZ DOCE DA TALÃ

 4 chávenas de arroz não bom; 4 lt de leite gordo; 1kg de açúcar; casca de 1 limão; 3 paus de canela; 1 colher de sopa de banha; 1/2 colher de sopa de sal.

Limpar e lavar o arroz, colocá-lo num tacho com um dedo de água fria por cima, a casca de limão, a canela em pau, a banha e o sal. Quando a água for absorvida por completo, começa-se a deitar o leite (previamente aquecido) aos poucos, só voltando a deitar novamente leite quando o anterior tiver sido absorvido. Quando se iniciar o último litro de leite juntar o açúcar. Conforme se quiser mais ou menos cremoso aperta-se mais ou menos o ponto. O meu vai sempre com pontro de estrada.

Se eu fosse.......

Se eu fosse cozinheiro gostaria de ser como o Chef Chifunga, ah!, o chef era um homem, camponês, do extremo sul de Angola, que na altura, anos 50/60 foi pedir emprego como ajudante de camionista ao meu Avô, comerciante e criador de gado no Otchinjau.
Ajeitava-se tanto na cozinha que passou a confeccionar as refeições para a família.
Um homem analfabeto, mas sábio no que fazia. Se hoje estivesse entre nós, de certeza que estaria ao nivel de um Ferran Adriá, naquela altura, sem máquinas de










vácuo, também não as poderia usar pois não havia electricidade na terra, a geleira era a petróleo, que para além das suas funções habituais, a avó também punha os ovos a chocar e tirava pintinhos e patinhos. Já ele usava as técnicas de baixas temperaturas para confeccionar as mais variadas iguarias, lembro-me como se fosse hoje, da inolvidável caldeirada de impala (melampus aepyceros) que ele fazia e que servia de almoço de piquenique a 15 de Agosto nas quedas do Ruacaná, quais cataratas de Niágara, no rio Cunene que faz fronteira, no extremo sul de Angola, com a Namíbia (Sudoeste Africano).O Avó não ía ao piquenique sem a caldeirada!
Caldeirada que podia também ser de cabrito (Capra hircus) ou de seixa (Guevei montícola). A caldeirada era preparada numa grande panela, cortada a carne e miudezas em bocados, esfregavam-se com os temperos feitos em pasta, alho, jindungo cahombo (piripiri), pimenta em pó, cominhos, louro, sal e noz-moscada, era acondicionada no recipiente escolhido, regada com um bom vinagre vínico, deixando-se marinar nesta vinha - d’alhos por algumas horas. Entretanto o Tchifunga preparava o fogo que iria cozer a caldeirada, tinha de ser fogo brando, quase só cinza, para que a carne cozesse muito lentamente e a baixa temperatura.

Daqui para a frente nada ficará como dantes!!!!!!!!

Já lá ía quase um ano, eis que, prendinha de Natal 2009, recebi a convocatória para a primeira entrevista, o curso a que me candidatara iniciava-se a 11/01/2010.
Incentivado pelas princesas, "Não deixes de correr atrás dos teus sonhos!", e com transtorno para todos, pois a frequência do curso implicava estar em Lisboa 1 ano e meio, às 8h00 do dia aprasado, lá estava à porta do CFPSA-Pontinha, e tudo começou!
Porquê?
Quando em Maio de 1984, cheguei a Lisboa, profundamente amargurado, tinha abandonado o lar (Angola), não sabia fazer um ovo estrelado que se visse! Um domingo em que a Mãe Rita tinha preparado um famoso e saborosíssimo assado na panela, perna de peru, ia a sair com Pai Martinho para a missa dominical e eu perguntei-lhe se havia sobremesa, tendo-me respondido que eu fizesse qualquer coisa a meu gosto, tinha um livro muito bom para me ajudar, era "Tesouros da cozinha tradicional portuguesa" das Selecções do Readers Digest, 1º edição/1984, que ainda hoje conservo na minha biblioteca de gastronomia e culinária. Ao vasculhá-lo encontrei a receita "Picado de abelha", lá me aventurei, com o João Cláudio e a Joana à perna, e que bom que saiu, depressa se acredita no muito que se deseja!!!!! Há, já me esquecia a Fá faz uma que é de comer e chorar por mais.Aí vai a receita:
 Ingredientes 8 pessoas
Massa
 100g de açúcar, 2 ovos, 3 colheres de sopa de leite, 100g de manteiga, 250g de farinha, 1 colher de chá de fermento em pó, manteiga q.b.
Recheio
 100g de amêndoas descascadas e cortadas às falhas, 100g de açúcar, 100g de manteiga, 3 colheres de sopa de leite.
Preparação
Bata o açúcar com a manteiga derretida. Acrescente depois os ovos um a um, o leite e por fim a farinha com o fermento. Unte a forma, de preferência de tarte, com manteiga e forre-a com esta massa. Introduza num tacho todos os ingredientes do recheio e deixe ferver durante 7 minutos. Coloque este recheio sobre a massa que está na forma e leve ao forno durante 25 minutos aproximadamente.
Desde aí tem sido uma paixão avassaladora, espero a partir deste curso tratá-la muito melhor!